Porque porra, eu não agüento mais falar de silêncio, falar pra encobrir o silêncio que você deixa toda vez que vai embora. E vira as costas e não tem mais último-olhar-recíproco-por-cima-do-ombro. Do tipo, eu sei, eu também vou ficar pensando em você antes de dormir. Não suficiente, vou pensar em você também de manhã, nos primeiros pensamentos que ressurgem com o banho. Não, não tem nada disso mais uma vez, e quantas vezes mais?, e eu vou fazer isto tudo mesmo que sozinha, porque se fosse controlável eu não estaria aqui reclamando pela milésima vez da tua ausência.
Fico pensando quão doce toda essa dor chega até você, em forma de paixão aveludada. Não interprete pela minha voz, que não sai. Nem pela melodia sutil que lhe presenteia refrãos. A vida é muito mais amarga do que nos é conveniente enxergar. Mas me afogo nos clichês quando vejo você transformar toda essa sujeira em cor. Em brilho nos olhos quando desço a rua. Em sorriso constante enquanto corre a paisagem. Em boca vermelha quando sinto saudade.
Imagino a tua ida definitiva e me agarro no conforto de ser só mais uma dentre as milhões de suposições. Imagino você ao lado durante todo o dia e finjo que não me importo se a noite não acabar assim. Conheço a linha tênue entre dividir todos os pensamentos e o medo da inconveniência que puxa os pés pra trás e egocentriza esse ‘nós’ só pra mim. Puta solidão egoísta. Puta medo de arriscar no que já não se faz certo. Ou puta desconforto de aceitar que sou eu a tola mesmo, que estou aqui sempre e que está em suas mãos toda a decisão de não me escolher pra si.
Enquanto do lado de cá, sussurro na cama vazia que sou sempre de ti. E você não estar ali no abrir de olhos esvai todos os pronomes possessivos que cabiam naquela língua que lembra o rouco ao arranhar a garganta. Que lembra amor ao estraçalhar o fôlego.
Eu confesso, nunca vi assim. De perder o foco, e voltar praí. Em não conter o querer você, mesmo sabendo tudo o que vem junto com seus dedos frios. O pulso fino que entende a minha força que se confronta com a delicadeza com que seguro e esquento a sua mão. O abraço apertado que nos encaixa de qualquer jeito e que pra nós tanto faz, porque eu estava mesmo há menos de um dia com saudade.
E lá se vão três ou quatro uísques, e lá vou eu me agasalhar inteira pra não largar tudo e ir me acolher nos elogios que me derretem com seu gelo. A partir de então eu entendo tudo, quando depois de toda nossa embriaguez de amor intensa você se vai cambaleando atrás de chão e eu firme com as mãos na cadeira e os pés no céu, o sorriso em vão, vidrando apenas o copo na mesa e o conteúdo no fim.
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