Tento enxergar um início na folha em branco. A dificuldade é justificável pois a origem é a mesma do teu silêncio. E com você embaralhada no peito, tento classificar, listar, ou qualquer dessas coisas metódicas que a gente inventa quando nos vemos obrigados a lutar contra algo que involuntariamente se expande. Afinal, é preciso buscar a sensação de controle em algum lugar além das suas mãos.
Tento me convencer de um ponto de vista frio, o mesmo que você veste antes de sair, apesar de ser quase incompreensível a opção de sentir o chão ao invés de olhar o céu. E me pego contando o número de bueiros quando há um caminho de nuvens palpáveis sobre minha cabeça. Têm sido assim esses últimos dias. O paradoxo da certeza de que não há espaço para a única certeza que tenho. É sempre difícil lutar contra o que pra nós deveria ser natural. Puxar-se das profundezas desmedidas e se estabilizar na superficialidade. Preferir a distância segura do teu rosto esquivo ao calor da minha boca no teu corpo quente. A gente se adequa ao que tem e se contenta com o que cabe. E isso significa acordar com o cheiro delicioso de chuva na pedra portuguesa, lembrando do seu doce e da minha estrutura amarga, pra aceitar que certos espaços simplesmente não cabem a nós, inteiros.
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