Esconderijo
E lá vou eu de novo. Obrigar a me contentar com as metades, com as superfícies. Engolir tudo o que é imenso e deveria ser entregue a todos os fins de tarde. A você, a favor do sol. É tão difícil comprimir todo o amor e reduzi-lo a palavras reféns a um registro histórico. Sufocá-lo num calabouço de pontos e vírgulas. E, aos poucos, vou me sufocando também. Vou apertando a garganta e, lentamente, perdendo o ar. Os músculos viciam em ficar sempre enrijecidos, segurando todo o peso. O sol frio, os pêlos arrepiados. E o coração ali atrás, a cada minuto mais marcado com laços, cordas e correntes que o apertam pra ele ficar ali, quietinho, escondido atrás de todos os nós expostos. Escondido de nós.
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