Olhando pro chão

O silêncio diz muitas palavras. Os olhos, mais ainda. Mas até quando vou ficar esperando pelas tuas palavras, pelos teus sorrisos, pelo seu abraço? Porque eu sempre estive te olhando, esperando nossos olhares se cruzarem pra então eu poder identificar um pouquinho dessas suas palavras aí escondidas. Você era paradoxal: objetivo e enrolador. Sabia direitinho quando desviar e quando olhar fixamente, entrando pela alma, driblando a razão até chegar no coração. Você era profissional, todos já sabiam. Assim como eu não era páreo para você. Mas dessa vez fui eu quem não quis ouvir, quem fez questão de desviar de todos os olhares de repreensão. Trabalho árduo. Até me sentia confusa meio a tantos intrusos na nossa história. Porém, quando fechava os olhos antes de dormir ou enquanto a água caía no rosto, era difícil sorrir. Era difícil conviver com a incerteza, com sua maneira inclassificável de sentir. E com minhas incontáveis tentativas em vão de te entender. Talvez eu tivesse medo de admitir que você apenas não sentia. Por isso, eu não fechava os olhos. Por mais que as pálpebras pesassem, eu fazia questão de não perder de vista os pés que fui obrigada a prender no chão. E agora me forço a andar, virando o rosto para desviar o olhar dos seus passos, mesmo vendo de canto de olho que eles vêm e vão na minha direção.

Um comentário:

  1. ahhh sim... Esse sempre será um jogo desconcertante.

    A profundidade do olhar revela a alma, e nem todos conseguem -podem- demonstrar a mesma.

    ts!

    ResponderExcluir