Entre paredes

E sentados na sala, não havia mais o que discutir. Ela não tinha mais o que lhe pedir. Não tinha mais o direito de cobrar. Aliás, nunca teve. Mas essa ilusão lhe dava poder, prazer. Agora todos sabiam. Ele não era dela. O pior, nunca fora.

Sim – ela respondia a si mesma, em meio a uma série de perguntas sem respostas. Ele era dela. Só dela. Como poderia não ser? Eram por ele todos os sorrisos incandescentes que tomavam conta de si. Era por ele aquele brilho no olhar. Era por ele o frio na barriga, só de imaginar. Tudo isso – acreditava ela – lhe fazia ser seu, inteiramente seu. E de mais ninguém. Só ele lhe proporcionava tais sensações, e isso bastava.

Por um instante ela voltava à sala. Sentada ao chão o avistava, sentado no sofá branco, fumando seu cigarro. Enquanto ela ficava ali, jogada com todas suas questões em que ela mesma não queria se responder. Dava voltas dentro de si, fugindo das respostas explícitas que tentavam vir à tona a todo o momento.

Ele também fugia para algum lugar. Algum lugar em que seus olhos não a deixavam desvendar. Mas não era como ela. Era um lugar tranqüilo, talvez excitante. Eles se olhavam por alguns instantes, que pareciam horas. Olhavam-se a fundo, tentando descobrir algo mais um do outro. Assim como ela, ele não se entregava. Ela não sabia o que pensar.

E quando já parecia não ter fim, ele lhe puxava para outro beijo. Pegava em sua coxa como se fosse sua. Era inevitável, aquelas perguntas sempre voltavam a ela: “será que ele aperta as coxas das outras mulheres também assim? Como se fossem dele e de mais ninguém? Será que ele gera essa mesma sensação em todas?”

Era fora de seu alcance. Toda aquela cena era muito mais excitante do que largar tudo pelas suas respostas cheias de razão. Ela não era forte o bastante. Talvez, nem quisesse ser. Então, se jogava. Se jogava por cima dele, se jogava nele, se jogava por ele, naquela noite, em que acordariam com o clarear do dia, abraçados, junto ao que os ligaria. Ao que seria para eles, seu mais novo segredo: o de se render.

23/11/2007 – 05:37

Nenhum comentário:

Postar um comentário