verso torto.
o dia em que o amor virou memória
estava parada estupefata no meio da cozinha. não lembro há quanto tempo vivia de lembranças. o gato sobre o pé, imóvel. fixando meus pés na terra. realidade, uma ilusão. é imprevisível o tempo de digestão. o tesão agonizando mórbido no corpo. me cobrindo desesperadamente de passado. medo da pele de fora. de assumir as vísceras cansadas, impotentes. eu não perdi. aprendi a deixar ir. o ego engole o abandono. o corpo acarinha a verdade. você optou: nosso amor virou memória.
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só sobra o silêncio da sala. o motor do ar central continua sempre girando enquanto o mouse gira na tela, hipnotizando meu tempo. o turbilhão mental silencia. os olhos percorrem em volta o barulho do vazio. a paz é cheia de faltas.
universo em (des)encanto
teus plurais já não têm minhas características
me procuro nos teus encantos e me perco
no lodo encantado em que ainda adormeço
na tua janela que ainda finjo que me aqueço
te mantenho acesa e morro de medo
do amor que depende de doses cavalares
de constante anseio
tu é bicho solto em pleno nevoeiro
sou carnaval despretensioso no auge de fevereiro
queria te pedir eterno encanto
mas só me resta purpurina nas pálpebras
pra reluzir enquanto descanso.
auto-excita
nos alimentamos no redemoinho do mar morto
de esperança centrifugada na distância
liberdade afogada em temperança
com medo de morrer
com o corpo cheio de paixão
com medo de matar
como último recurso
a ilusão.
demo-lição
pelo meu estômago, sinto como se as paredes estivessem prestes a ruir e o teto desabar sobre meus pés intactos. talvez isso fosse necessário para externalizar minhas ruínas internas. a ânsia pela reconstrução imediata. aflita com a poeira de escombros na boca seca. nada como uma ladeira para relembrarmos nosso real peso. e uma avenida deserta pra cruzar a madrugada sentindo o peito deslizar vazio no asfalto macio. demolida, só sentindo o vento circular entre as lacunas do reinicio.
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