knock-out

Tomou um de esquerda e outro de direita, derrubando-lhe no chão. Sentada sustentada pelas mãos, lutando para não se deixar cair por completo, percebia o sangue escorrer da boca, enquanto ainda imóvel – mesmo apesar da respiração ofegante –, assustada, olhava incrédula pro vazio. Chocada com o que lhe acabara de acontecer, esforçava-se pra não deixar o acontecido entrar em sua mente. Já não era possível: as gotas de sangue já chegavam ao chão e cada pingo ressoava como pratos de bateria, cujo agudo naquele silêncio retalhava-lhe o corpo e, principalmente, a alma. Desejou se afogar em uma hemorragia, onde pelo menos poderia tornar-se surda.

Os golpes não pararam. Agora, desprovidos da força física, estes eram muito mais fortes. Com o viés das palavras, eram como pauladas em sua restante sustentação. E enquanto era acusada de só tirar, de ser parasita, encontrava a dor diante de um ser que só dava, dava, dava-lhe tristeza, descontentamento e as já comuns lágrimas. Entretanto, no meio de tanta covardia, um sorriso no canto do lábio apareceu, no momento em que uma gota que havia saído dos olhos, passava pela boca e encontrava-se com uma de sangue. Era um breve espasmo de felicidade contemplando o julgamento de seu ser, que, pelo menos, não trazia dor a ninguém.

Um comentário:

  1. Até que enfim você atualizou o blog! E com um soco no estômago, admito... Knock-out.

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