Presa na Espera

E apenas escrevo. Sem rumo, sem esperança, sem linhas. Tentando trilhar algum sentido no branco do papel. Estou mais perto das metáforas, porém, longe da poesia. Da beleza das palavras. Elas estão sendo apenas jogadas, depositadas; despretensiosas. Acho-as tão feias olhando por esse ângulo. Esse meu ângulo interno, escuro, que faz as letras subirem e descerem sem padrão.

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É claro que em algum momento eu ia chegar em você. Que tantas vezes me inspira e milhões de outras me sufoca. Teu poder provoca inveja. Ele está naquela vírgula que você não colocou, na exclamação que lhe faltou, no ponto final que ainda não deu. Enquanto isso eu fecho os olhos, tampo-os com as duas mãos para ter a certeza de que não vou ver. Mas eu sinto. Não sei parar de sentir. Consigo perceber o vento mais forte, como aqueles existentes na beira de altos precipícios. E eu tenho certeza, as mãos que levam são as inconfundíveis: as tuas.

Mas não, você muda de idéia. Me leva de volta, agora segurando firme as minhas mãos. Agora eu já posso enxergar. Entretanto, me encantei tanto com teu olhar, que esqueci de olhar pra baixo. Não consigo mover minhas pernas. Me distraí e não percebi que, mesmo com os olhos abertos, cegamente te seguia. E então me vejo presa nos lamaçais. Quando olho pra cima novamente, você já se foi. Largou minha mão sem que eu quisesse perceber. A lama varia dos joelhos até o pescoço. Só sobra a cabeça de fora para que eu possa, com dificuldade, respirar.

Não teria graça caso eu me afogasse de vez. Foi o mesmo motivo pelo qual você não sussurrou no meu ouvido, me pedindo pra pular. Deves adorar ficar escondido me observando tentar caminhar com as pernas cobertas de barro. Quando cansas de rir, vens com sua falsa generosidade estampada no sorriso, me estendendo a mão. Porque você esperou a minha reação quando tantos outros outrora a ofereceram. Adorou me ver negá-las e dizer que eu já era grande o bastante para sair dali sozinha. Adorou me ver fingindo não ouvir aqueles que insistiam gritar, me dando a direção da saída. E foi ótimo para o seu ego presenciar eu aceitando segurar firme apenas a sua, enquanto retribuía os sorrisos agradecida, sem conseguir desviar os olhos dos seus.

E quando eu fingia não esperar, você me soltou. De novo. Ainda tentei em vão me agarrar às folhagens em volta. Mas só serviu para me ralar ao escorregar pelo monte enlameado, antes de me estabacar lá embaixo.

E aqui me encontro. Em pé, com as pernas presas, me segurando para não sentar e chorar. Tento sonhar com outras mãos, braços e abraços, mas não consigo. Já está ficando escuro. E eu estou firme, aguardando pacientemente você vir me buscar. Ou me afogar.

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