Rascunho de nós dois

Jeff Buckley - Calling You Live At Sin-E
Enviado por Midnight_Maraudeur - Buscar outros videos de Musica.

[Play]

Te encontro no escuro. Sentada na cadeira de madeira, onde imagino que só meus pés apoiados fechando as pernas apareçam. Meu semblante meio apagado, coberto pelos cabelos embaraçados. A luz vem da porta entreaberta, por onde muito tempo eu esperei você entrar. Um cigarro ainda apagado entre os dedos, uma caixa de fósforo na mesma mão; imóvel. E você. Você em pé, parado, me vendo sem agir. Tantos pontos pra poucas ações, pontuando atos descontínuos que não carecem das vírgulas. Por ora, ali sentada, penso nos pontos finais e os odeio até o último movimento. É como ti, que chega. Pára. Me chama. Pára. Pergunta. Emudece. Eu tento manter-me intacta quando te vejo chegando perto, devagarzinho, pronto para fazer minha sanidade se esvair entre nós dois. Na lentidão de sua volta, sinto demorar horas a mão que se estende até mim, enquanto percebo claramente o calor que vem com ela. Passa pelo meu rosto e vai parar nos cabelos da minha nuca. Involuntariamente minha mão desliza pelo seu braço que puxa minha cabeça pra trás, me fazendo olhar nos seus olhos, até encontrar a tua e ali ficar. E como se eu saísse do meu próprio corpo, presencio a cena de fora, observando meus olhos quase cuspindo o coração ritmado, gritando mudo, dizendo que ele é seu. Leva embora.
E depois de segundos ou horas estáticas, é quando você surpreende os parágrafos me levantando pelo beijo virando de um lado pro outro a respiração ofegante enquanto insustentavelmente sinto minhas costas no chão na madeira já quente com nossos corpos já suados e mãos que se espalham por todos os lugares e cabelos molhados e pernas entrelaçadas que já não sabemos de quem são. Queria saber parar. Pontuar. Me desvencilho dos lábios vermelhos e latentes, pegando seu rosto e observo sua boca por entre minha mão. É quando, mentalmente, entrego a caneta e o papel a você. Puxo tua boca de volta a minha enquanto arranho seu pescoço, descendo pelas tuas costas por cima da camisa molhada de suor. Com os olhos bem fechados, ali, eu havia tomado minha decisão: me entreguei em suas mãos.